segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Crónica do Pássaro de Corda, de Haruki Murakami

Sinopse: Toru Okada, um jovem japonês que vive na mais completa normalidade, vê a sua vida transformada após o telefonema anónimo de uma mulher. Começam a aparecer personagens cada vez mais estranhas em seu redor e o real vai degradando-se até se transformar em algo fantasmagórico. A percepção do mundo torna-se mágica, os sonhos invadem a realidade e, pouco a pouco, Toru sente-se impelido a resolver os conflitos que carregou durante toda a sua vida.
Este livro conta com uma galeria de personagens tão surpreendentes como profundamente autênticas e, quase por magia, o mundo quotidiano do Japão moderno aparece-nos como algo estranhamente familiar.
Crónica do Pássaro de Corda, ao qual foi atribuído o Prémio Yomiuri, é considerado, por muitos, a obra-prima de Murakami. 

A minha opinião: Murakami é um escritor único, cujas obras primam pela atmosfera surreal em que o leitor é envolvido. Apesar da peculiaridade das personagens e acontecimentos narrados, que chegam a ser muito bizarros, o facto é que as histórias costumam ser sempre cativantes.

Na Crónica do Pássaro de Corda, Murakami apresenta-nos Toru Okada, um homem que aparenta levar uma vida banal até que recebe uma chamada anónima de uma mulher, sendo que, a partir daí, a sua vida vai estar repleta de acontecimentos que parecem ilógicos, mas que, na realidade não são tão obscuros ou deslocados da realidade. 

Confesso que, no início, me foi difícil gostar do livro. Isto, porque se revelava já uma tendência para muitas pontas soltas e histórias paralelas ao longo da leitura que, ainda que se tenham mantido ao longo desta e até tenha gostado, foram difíceis de me habituar inicialmente.

Mas, se primeiro se estranha, depois entranha-se e o facto é que a leitura foi ganhando ritmo. Este livro foi, dos que li de Murakami, aquele com que deparei com personagens mais inusuais, que por se distanciarem das opções de vida habituais, revelam uma sabedoria e liberdade fascinantes. Dentro das pessoas com que Toru contacta, conhecemos espírito livres e jovens, personagens que abraçam o sobrenatural, mas também seres sem escrúpulos e manipuladores, que reconhecem os mais vulneráveis e deles se aproveitam. Com eles reflectimos sobre o destino, a dualidade do ser humano, o conhecimento que temos sobre as pessoas e os impulsos, a fronteira ténue entre consciente e inconsciente, sendo várias as passagens convidativas a estas reflexões pessoais, que me fizeram parar a leitura, diversas vezes, para absorver o que estava a ler.  Aliás, a diferença tão subtil entre sono e vigília afectaram, inclusivamente, uma noite que seria, para mim, calma e tranquila, mas que Murakami não deixou sossegada.

Confesso que gostaria de ter gostado tanto deste livro como dos outros que li dele, mas o facto é que me deixou um vazio no final. Talvez por ter sentido pouco interesse em algumas partes da leitura ou por Murakami ter levado mais ao extremo as pontas soltas em alguns momentos do livro, não desfrutei tanto da história da Crónica do Pássaro de Corda. Porém, a leitura de excertos onde há um apelo magnífico  às sensações, que me levam a descobrir obras de música clássica maravilhosas e as reflexões que o livro incitou valeram bem a pena.


Classificação: 7/10 - Bom  

PS - Para os leitores que gostariam de começar a ler Murakami, Sputnik, Meu Amor ou A Sul da Fronteira, a Oeste do Sol seriam melhores escolhas, a meu ver, para se ambientarem ao estilo de Murakami. 

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