quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O Prenúncio das Águas,de Rosa Lobato de Faria

Sinopse:Tendo como pano de fundo uma aldeia condenada a ficar submersa pelas águas de uma barragem,cinco narradores falam de si,completando, à medida que o fazem,uma história a que só o leitor terá direito.

A minha opinião: Rosa Lobato de Faria tornou-se uma das minhas escritoras preferidas e, provavelmente, deve ser a que mais me impressiona pela sua prosa. Tem um je ne sais quoi de poético, uma forma melodiosa de construir as frases e encaixar versos e frases conhecidas de uma forma subtil. É essa prosa que consegue, como poucos escritores o logram, embrenhar intensamente o leitor numa história mundana e simples. Sim,é essa simplicidade de que traz ao livro algo de encantador.
Deter-me-ei agora de falar na sua belíssima escrita, pois a história também tem muito para dizer. Em O Prenúncio das Águas, o leitor é enviado para o Rio do Anjo, uma aldeia alentejana, recheada de lendas e habitantes típicos de uma aldeia portuguesa, que devido a uma barragem, será submersa pelas águas do rio. Os dias finais desta aldeia são nos relatados, na 1º pessoa, por 5 habitantes : um rapaz de nome Pedro, Ivo,um homem de 60 anos, Filomena, uma filha de emigrantes em França que retorna à sua terra de origem, Ausenda,uma das irmãs Matias Branco e Sebastiana, a habitante mais idosa da aldeia, considerada uma bruxa pelas crianças. É através da visão de cada uma delas que vemos perspectivas completamente diferentes sobre o triste, mas inevitável fim da aldeia. É curioso como Rosa Lobato de Faria consegue, graças ao seu talento, escrever como se fosse 5 pessoas ao mesmo tempo. O capítulo de cada personagem começa e o leitor sabe instantaneamente que personagem é, apenas porque a sua voz característica é logo ouvida.
Apesar de haver uma certa previsibilidade no caminho de cada personagem e no fim da história, não há um único momento em que não haja a esperança de um novo rumo das coisas, em que não vibremos e nos revoltemos com as personagens. Como disse, a história trata de um tema muito mundano, real, mas talvez seja essa a característica que lhe confere algo tão especial. Rosa Lobato de Faria é uma escritora que recomendo. Ler os seus livros é puro deleite.
Classificação: 9/10 - Excelente

domingo, 28 de agosto de 2011

Dead to the World (Sangue Oculto), de Charlaine Harris

Sinopse: Sookie terminou a sua relação com Bill após considerar que ele a traiu. Um dia, quando sai do trabalho para casa, depara-se com um vampiro nu e desorientado. Rapidamente ela percebe que ele não tem a mínima ideia de quem é nem para onde vai, mas Sookie sabe: ele é Eric e parece tão assustador e sexy - e morto - como no dia em que o conheceu. Mas agora como Eric está com amnésia, torna-se doce e vulnerável, e necessita da ajuda de Sookie - porque seja quem for que lhe tirou a memória, agora quer tirar-lhe a vida. A investigação de Sookie leva-a a uma batalha perigosa entre bruxas, vampiros e lobisomens. Mas pode existir um perigo ou ameaça ainda maior - ao coração de Sookie, porque estando Eric mais gentil e mais doce... é muito difícil resistir.
A minha opinião: Este quarto livro da saga surpreendeu-me. Apesar de ser mais parado do que o habitual, não perde a capacidade de nos prender até à última página. Neste volume, Sookie tem nas suas mãos dois problemas para resolver: o feitiço lançado pelas bruxas em Eric, que o deixa amnésico e com uma personalidade bem diferente, assim como o desaparecimento do seu irmão, Jason. Só posso dizer que, como fã incondicional de Eric, adorei o protagonismo que lhe foi dado e o facto de Bill ter (quase) desaparecido.
Em Dead to the world, houve mais um pequeno grande avanço no conhecimento deste mundo sobrenatural (não só em relação às novas criaturas como as bruxas, wiccans e fadas, mas também em relação aos já conhecidos metamorfos e lobisomens). Charlaine Harris sabe como prender o leitor e levantar gradualmente o véu, pelo que estou muito curiosa em relação ao que me espera nos outros livros, especialmente para conhecer o papel das fadas neste mundo sobrenatural.
E por fim, aquilo que digo constantemente em relação aos livros desta saga super consistente. É sempre difícil adivinhar o que nos espera na página seguinte, mas certamente será uma boa mistura de mistério, acção, fantasia e humor. O facto de ler a saga na sua língua original só a torna ainda melhor. Neste volume em particular, Harris deu ênfase às minhas personagens favoritas, pois Sookie continua como uma excelente narradora, sendo que consegue perfeitamente encaixar-nos na sua cabeça e Eric mostra uma nova faceta, mas não menos apetecível. Dito isto, espero ler o próximo livro brevemente, pois entre outras coisas, a história de Jason foi deixada demasiado em aberto para não se ter uma grande vontade de saber o que lhe acontece.
Classificação: 8/10 - Muito Bom

Saga Sangue Fresco - opiniões :

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Quando Lisboa Tremeu, de Domingos Amaral

Sinopse: Lisboa, 1 de Novembro de 1755. A manhã nasce calma na cidade, mas na prisão da Inquisição, no Rossio, irmã Margarida, uma jovem freira condenada a morrer na fogueira, tenta enforcar-se na sua cela. Na sua casa em Santa Catarina, Hugh Gold, um capitão inglês, observa o rio e sonha com os seus tempos de marinheiro. Na Igreja de São Vicente de Fora, antes da missa começar, um rapaz zanga-se com a sua mãe porque quer voltar a casa para ir buscar a sua irmã gémea. Em Belém, uma ajudante de escrivão assiste à missa, na presença do rei D.José. E, no Limoeiro, o pirata Santamaria envolve-se numa luta feroz com um gangue de desertores espanhóis. De repente, às nove e meia da manhã, a cidade começa a tremer. Com uma violência nunca vista, a terra esventra-se, as casas caem, os tectos das igrejas abatem, e o caos gera-se, matando milhares. Nas horas seguintes, uma onda gigante submerge o Terreiro do Paço, e durante vários dias incêndios colossais vão aterrorizar a capital do reino. Perdidos e atordoados, os sobreviventes andam pelas ruas, à procura dos seus destinos. Enquanto Sebastião José de Carvalho e Melo tenta reorganizar a cidade, um pirata e uma freira tentam fugir da justiça, um inglês tenta encontrar o seu dinheiro, e um rapaz de doze anos tenta encontrar a sua irmã gémea, soterrada nos escombros. (retirado de http://www.leya.com/gca/?id=316)

A Minha Opinião: Quando Lisboa tremeu relata uma história que tem como cenário a catástrofe de 1 de Novembro de 1755 em Lisboa. Dividido em 4 partes - Terra, Água, Fogo, Ar - o leitor vai acompanhando a destruição de Lisboa, primeiro pelo terramoto, mas seguidamente pelos tsunamis e incêndios.
Na capa, é nos dado a conhecer que o dia de todos os santos mudaria a vida de 5 pessoas para sempre. São elas o pirata, a irmã Margarida, o comerciante inglês Hugh Gold, Bernardino e o rapaz. A história de cada uma delas é-nos contada pelo pirata Santamaria e desde logo nos damos conta de que as suas histórias são bastante peculiares. A maneira com que Santamaria relata os acontecimentos, deixando algumas frases suspeitas sobre o que se passará no futuro, cria também algum suspense, o que, claro, contribui para que o leitor fique rapidamente preso à história.
Sem dúvida que os pontos positivos deste livro são estas personagens, bem desenvolvidas e tão diferentes entre si que, por um acaso do destino, se vão cruzando no meio da catástrofe que assolou Lisboa. Deixo também uma nota para o final, que não só foi comovente como também imprevisível.
No entanto, o livro peca na questão histórica. Pelo menos eu procurava um pouco mais de história neste livro. É sem dúvida muito engraçado ler algo que tem lugar numa cidade que me é muito familiar e conseguir imaginar os espaços como se fosse eu a percorrê-los, durante um acontecimento que me é também familiar, mas gostaria de ter retirado mais um pouco de informação do que a que retirei.
Talvez tivesse umas expectativas um pouco elevadas em relação a este livro, no entanto, não deixo de reconhecer que é uma leitura agradável, com capacidade para agarrar o leitor, e que dá uma boa visão sobre este acontecimento.
Classificação: 7/10 (Bom)

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

As Virgens de Vivaldi, de Barbara Quick

Sinopse: As Virgens de Vivaldi traz-nos a Veneza barroca, esplendorosa e decadente de inícios de Setecentos, la Serenissima, num fresco luminoso e negro de uma sociedade marcada pela festividade exuberante do espírito carnavalesco e pelo peso castrador de uma mentalidade arreigadamente puritana. É a Veneza de Antonio Vivaldi, dos grandes génios e das obras-primas musicais, da riqueza cultural, das festas em opulentos ambientes palacianos, mas também do medo, da opressão, do Grande Inquisidor e de todos aqueles que a sociedade ostraciza. e é através do olhar de anna Maria - uma das jovens acolhidas pelo Ospedale della Pietá, virtuosa do violino e aluna predilecta do grande maestro Vivaldi - que podemos observar esse fresco, que ficamos a conhecer a sua fascinante história de vida, o quotidiano dentro das paredes do Ospedale, as intrigas da Veneza do século XVIII e um pouco do legado musical e da vida do próprio Vivaldi.

A minha opinião: As Virgens de Vivaldi conta-nos a história de Anna Maria dal Violin, a conhecida rapariga do Ospedalle della Pietá a quem o seu professor, Vivaldi, dedicou várias obras dado o seu virtuosismo ao tocar violino.

A nível histórico, este livro foi uma agradável surpresa, pois não conhecia o Ospedalle della Pietá, uma instituição que acolhia bebés enjeitados. Foi muito interessante ter uma ideia de como se organizava e o porquê do seu sucesso em criar jovens músicas, pois a maioria das figli di coro (raparigas que revelavam ter talento musical) permanecia lá toda a sua vida e não eram poucas as vezes que se apresentavam em concertos, visto pertencerem a uma escola de música bem famosa na altura, onde o Padre Vermelho foi professor. Curioso que Vivaldi não aparece como uma personagem muito central neste livro, ainda que, a meu ver, a autora conseguiu transmitir de forma subtil as características principais que lhe são atribuídas e alguns aspectos da sua biografia, como o caso da misteriosa cantora Anna Giraud. Parece de facto que Vivaldi, Anna Maria e la Serenissima revivem nas páginas deste livro.

A forma como o leitor conhece a historia de Anna Maria dal Violin é outro ponto positivo. Primeiro, temos as cartas que Anna Maria escreveu para a mãe enquanto jovem, com a esperança de que esta as lesse algum dia. Mas estas cartas relatam apenas um pouco da sua vida, pelo que são intercaladas pela voz de uma Anna Maria mais velha que revela o resto dos acontecimentos da sua juventude com outros olhos.

Ainda assim, houve algumas coisas que me decepcionaram neste livro. A maior preocupação de Anna Maria era encontrar a sua mãe e muita da acção do livro desenrola-se à volta dessa demanda. Mesmo para leitores pouco perspicazes, parece-me que, salvo algumas reviravoltas, tudo é bastante previsível. Acima de tudo, não foi um livro memorável. Apesar de uma escrita floreada e bastante agradável de se ler, não conseguiu, infelizmente, estabelecer comigo uma grande ligação.

Classificação: 6/10 (Bom, mas deixa a desejar)