segunda-feira, 28 de março de 2011

As aventuras de João sem medo, de José Gomes Ferreira

Sinopse: História fantastica que recorre ao imaginário mágico, por vezes de inspiração surrealista, este romance é um prodígio da efabulação e engenho narrativo.

A Minha opinião:
Já tinha ouvido falar no livro As Aventuras de João sem Medo há algum tempo, no entanto, nunca pensei sequer em lê-lo, porque, sendo franca, o título não me puxava de todo.
Foi então que um colega o apresentou à turma, dizendo que a história era uma crítica ao fascismo que o autor ironizava na personagem João sem Medo. (Afinal até parece interessante, não é?)

J
oão sem Medo vive em Chora-que-logo-bebes - "exígua aldeia aninhada perto do Muro constituído em redor da Floresta Branca onde os homens, perdidos dos enigmas da infância, haviam estalado uma espécie de Parque de Reserva de Entes Fantásticos" - onde os choraquelogobebenses passam a vida a choramingar. Porém, um habitante, João sem Medo, é um resistente à choraminguice e um dia decide saltar o Muro. A partir daí, as suas aventuras começam no mundo imaginário.

Um livro divertido e interessante com uma história segmentada em capítulos curtos que apresentam as situações mais estranhas com as quais João sem Medo se depara depois de saltar o Muro, como um encontro com um gramofone com asas, a existência de uma cidade da confusão ou uma conversa com uma menina com pés ocos. Pequenos episódios que proporcionam um escape à realidade e que ao mesmo tempo escondem valiosas mensagens para os leitores.

Por exemplo, quando João sem Medo se depara com dois caminhos: o da felicidade e o da infelicidade, e deve escolher um deles, sabendo que terá que aceitar que lhe cortem a cabeça para seguir o caminho da felicidade. José Gomes Ferreira pega assim numa situação conhecida de outras histórias fantasiosas - na qual uma personagem tem de preferir um caminho a outro, sendo o mais difícil o que revela ser a escolha acertada - para criticar o regime fascista da altura em que não se devia pensar, ou seja aceitar que nos cortassem a cabeça, para se poder ser feliz. Ou então, não tanto no campo de uma metáfora, quando João Medroso é dissolvido na atmosfera e o autor esclarece que esse é "o ar que nós respiramos há muito, apenas em dose menos maciça" (o ar no qual o medo está dissipado).


Como outro ponto positivo, fiquei com uma imagem muito boa em relação ao autor, porque me fez abandonar a faceta mais melancólica que conhecia de José Gomes Ferreira, principalmente no capítulo XII - o do ar envenenado- em que o escritor me apanhou de surpresa e me fez rir um pouco.


Recomendo para todas as idades, pois emprestei-o à minha irmã, de 11 anos, e ela também gostou.


Classificação:
7/10 (Bom)