sábado, 31 de dezembro de 2011

2011

Nunca pensei vir alguma vez a escrever algo deste género no blog, apesar de já ter tido vontade de o fazer antes. Porém, é meia-noite do dia 31 de dezembro de 2011 e penso, porque não.
Este último trimestre de 2011 confirmou uma tendência que surgiu quando entrei no secundário: a minha total falta de vontade de começar um livro em tempo de aulas. E isto causa-me estranheza. Estranheza porque sempre vi os livros como um bilhete para escapar à realidade, estar num mundo só meu por um tempo. Sempre foi uma forma de descomprimir, daí que as minhas literaturas recaiam essencialmente em romances e fantasia, raramente um livro com fundo verídico passa nas minhas mãos. Porém, vejo me a abrir um livro, ler as primeiras linhas e pensar no quão cansada estou e no que tenho para fazer no dia seguinte e dou por mim no final da página sem saber o que li, e fecho o livro e adormeço. Na noite seguinte, posso nem abrir o livro devido à tentativa fracassada anterior. Olho para a mesa de cabeceira e vejo Os Maias, Olhai os Lírios do Campo, Mulherzinhas e Lolita, entre outros. Os primeiros dois, obrigatórios para português, o outro para inglês e Lolita, o livro que não consegui acabar de ler.
Sinto falta de não saber o que vou ler a seguir, de olhar para a minha estante e escolher, dentro de livros requisitados, emprestados ou inclusive meus, aquele que mais me apela nesse momento. Tenho saudades de ter a liberdade para ler o que me apetece e de ir ao blog e dedicar-me com o mesmo entusiasmo de antes. Por isso nestes últimos meses decidi não forçar. Pelas pessoas que leem o blog, pela Papillon e a Juliet e por mim, por sentir uma obrigação de dar sempre o meu melhor, apesar de saber que as opiniões que escrevo valem o que valem. Porém sei que vou encontrar de novo a motivação.

Dito isto, um pequeno balanço literário de 2011:

Os livros que mais gostei:
- Crónicas do Gelo e do Fogo: Já no ano passado figuravam no top e este ano regressam. O sexto volume foi simplesmente fantástico e, apesar das expectativas serem muito altas, foram completamente superadas. Em 2012, é obrigatória a leitura de mais livros desta série.
- O Prenúncio das Águas: Não me canso de elogiar Rosa Lobato de Faria, porque a sua prosa é, para mim, encantadora, assim como a forma como torna a história mais mundana e simples em algo maravilhoso.
- Amor de Perdição: O que poderei dizer deste clássico? A minha vontade de relê-lo quando o acabei foi enorme, simplesmente porque as cartas que Simão e Teresa trocavam eram belíssimas.
- Os Pilares da Terra : Sem dúvida que este livro me tocou. A história extremamente bem construída e as suas personagens credíveis foram algo que desfrutei enormemente. Vêm-me sempre à memória quando vejo uma catedral.

Em números:

Livros lidos: 23

Por género:
Romance: 11
Romance histórico: 4
Policial: 3
Fantasia: 3
Outros: 2


Por autores:
Autores conhecidos: 5
Autores que não conhecia: 10
Autor com mais livros lidos: Agatha Christie (3)
Autores Portugueses: 6

Emprestados (biblioteca): 12
Emprestados (pessoas): 2
Comprados:9

O grande objetivo de 2011 a nível literários era ler autores portugueses. Para 2012, pretendo continuar com este objetivo e acrescentar autores de expressão portuguesa.

Resta desejar a todos os leitores um excelente 2012, com muito boas leituras.

sábado, 24 de setembro de 2011

A Glória dos Traidores, de George R. R. Martin

Sinopse: O bafo cruel e impiedoso do Inverno já se sente. Quando Jon Snow consegue regressar à Muralha, perseguido pelos antigos companheiros do Povo Livre, não sabe o que irá encontrar nem como será recebido pelos seus irmãos da Patrulha da Noite. Só tem uma certeza: há coisas bem piores do que a hoste de selvagens a aproximarem-se pela floresta assombrada. O Jovem Lobo também está em viagem, na companhia da mãe e do tio, numa tentativa de reconquistar duas coisas fundamentais para os Stark: a aliança da Casa Frey e o Norte. A primeira parece bem encaminhada, mas é sabido como o velho Walder Frey é traiçoeiro. Quanto à segunda, é uma incógnita, pois a tarefa que lhe cabe é quase impossível: conquistar Fosso Cailin a partir do sul. Em Porto Real, há dois casamentos em perspectiva, qual deles o mais importante para o destino dos Sete Reinos. Mas quem sabe o que os caprichos do destino têm reservado para os noivos? Jaime Lannister, agora mutilado, regressa para junto dos seus sem saber o que o aguarda. E do outro lado do mar, o poder dos dragões renasce, com Daenerys à cabeça de uma hoste de eunucos treinados para a guerra e finalmente rodeada de amigos. Mas serão esses amigos… dignos de confiança?

A Minha opinião: Para quem ainda não começou a ler esta saga, recomendo que o faça imediatamente. Ficará seguramente arrebatado pelas personagens e o brilhante mundo criado por George R. R. Martin.

Só posso dizer que, após 6 volumes, não estou de modo algum desiludida com esta saga . É claro que houve momentos que não gostei muito, mas a verdade é que são tão raros e tudo o resto é excelente. Neste volume então, Martin superou-se. Desde que o começamos há uma reviravolta quase que a cada capítulo! É realmente de cortar a respiração ver o que a acontece a tantas personagens e constatar que não podemos tomar nada como certo, porque Martin vai trocar-nos as voltas.


N'A Glória dos Traidores, a qualidade das personagens mantém-se, na realidade, algumas delas tornaram-se ainda mais interessantes neste livro como Jon, o Mindinho e Jaime e outras despertaram finalmente o meu interesse (sim, refiro-me a Sansa). Fiquei, no entanto, com alguma vontade (muita) de ler mais alguns capítulos de Daenerys e Bran. Ainda assim, se houve algo que realmente senti diferente neste livro foi o facto de que os acontecimentos me prenderam muito mais do que nos outros livros anteriores. Até este livro o que realmente adorava eram as personagens, mas agora acho que este jogo de interesses entre as casas e esta total incerteza sobre o destino de cada uma são coisas que não poderia abdicar.

Houve inclusivamente uma passagem de Sansa, uma das personagens que até à altura me prendia menos a atenção, que me pôs a pensar:

"Sansa pôs-se a vaguear, passeando por arbustos congelados e esguias árvores escuras, e perguntou-se a si própria se estaria ainda a sonhar. Flocos de neve que caíam roçavam-lhe no rosto com a leveza dos beijos de um amante e derretiam-se-lhe nas bochechas. Virou o rosto para o céu e fechou os olhos. Sentiu a neve nas pestanas, saboreou-a nos lábios. Era o sabor de Winterfell. O sabor da inocência. O sabor dos sonhos."

Sim, por momentos dou por mim a desejar novamente paz, um final feliz (agora dentro do possível) para a família Stark e a questão do rei resolvida. Porém, essa ideia rapidamente se desvanece, porque se há alguma coisa que tenho a certeza é que esta história ainda tem muito para dar. Vão haver mais personagens que me surpreenderão, traições, casamentos infelizes, mortes cruéis. E eu não quero perder nenhum destes acontecimentos. Quero ser arrebatada por esta história por mais algum tempo.

Escusado será dizer que este brilhante livro é o meu preferido de toda a saga.

Classificação: 9/10 - Excelente

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Tormenta das Espadas, de George R.R Martin

Sinopse: Os Sete Reinos estremecem quando os temíveis selvagens do lado de lá da Muralha se aproximam, numa maré interminável de homens, gigantes e terríveis bestas. Jon Snow, o Bastardo de Winterfell, encontra-se entre eles, debatendo-se com a sua consciência e o papel que é forçado a desempenhar.Todo o território continua a ferro e fogo. Robb Stark, o Jovem Lobo, vence todas as suas batalhas, mas será ele capaz de vencer as mais subtis, que não se travam pela espada? A sua irmã Arya continua em fuga e procura chegar a Correrrio, mas mesmo alguém tão desembaraçado como ela terá dificuldade em ultrapassar os obstáculos que se aproximam.Na corte de Joffrey, em Porto Real, Tyrion luta pela vida, depois de ter sido gravemente ferido na Batalha da Água Negra, e Sansa, livre do compromisso com o rapaz cruel que ocupa o Trono de Ferro, tem de lidar com as consequências de ser segunda na linha de sucessão de Winterfell, uma vez que Bran e Rickon se julgam mortos. No Leste, Daenerys Targaryen navega na direcção das terras da sua infância, mas antes terá de aportar às cidades dos esclavagistas, que despreza. Mas a menina indefesa transformou-se numa mulher poderosa. Quem sabe quanto tempo falta para se transformar numa conquistadora impiedosa?

A minha opinião: Muitas pessoas disseram-me que se eu tinha gostado dos volumes anteriores, ia adorar o 5º e o 6º. Na altura, achei um pouco difícil, porque eu tinha gostado mesmo muito dos outros, mas em relação a este volume, sem dúvida que é verdade.
Mais uma vez, esta é só a primeira parte do 3º livro original, por isso quero apenas deixar algumas impressões, porque estou em pulgas para começar o próximo volume :)

À semelhança do 3º, também este volume é o meio de montagem para os acontecimentos do próximo volume e portanto, Martin desenvolve a história de várias personagens, criando uma certa atmosfera, uma tensão para o volume seguinte. No entanto, não existe a enorme apresentação de personagens que, apesar de necessária no 3º volume, foi um dos pontos que menos gostei. Este volume, apesar de não ter acontecimentos propriamente marcantes, teve sempre um ritmo constante, pois os caminhos de cada personagem eram não só cativantes como também bastante imprevisíveis e gostei bastante de (quase) todos os rumos das personagens. Confesso que como considero que as personagens são o grande trunfo desta saga, as expectativas são sempre muito elevadas, mas até agora têm sido sempre superadas.
Um dos pontos que não podia deixar de referir ao falar das personagens é a introdução de duas novas com capítulos próprios : Jaime e Samwell. Se por um lado achei que Jaime foi uma excelente adição, por podermos finalmente conhecê-lo melhor,por outro não gostei nada dos capítulos de Samwell, porque não só me pareceram pouco interessantes, como a própria personagem deixa-me muito a desejar.

Deixo agora apenas uma nota em relação à história em si. Não sei se pelo tamanho do volume, se por outra razão, sinto a necessidade de alguma espécie de conclusão de alguns assuntos, entre eles o destino de Arya e a história de Catelyn.

Se A Glória dos Traidores for para A Tormenta das Espadas o que O Despertar da Magia foi para A Fúria dos Reis, parece-me que vou absolutamente adorar o próximo volume!

Classificação: 8/10 (Muito Bom)

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O Prenúncio das Águas,de Rosa Lobato de Faria

Sinopse:Tendo como pano de fundo uma aldeia condenada a ficar submersa pelas águas de uma barragem,cinco narradores falam de si,completando, à medida que o fazem,uma história a que só o leitor terá direito.

A minha opinião: Rosa Lobato de Faria tornou-se uma das minhas escritoras preferidas e, provavelmente, deve ser a que mais me impressiona pela sua prosa. Tem um je ne sais quoi de poético, uma forma melodiosa de construir as frases e encaixar versos e frases conhecidas de uma forma subtil. É essa prosa que consegue, como poucos escritores o logram, embrenhar intensamente o leitor numa história mundana e simples. Sim,é essa simplicidade de que traz ao livro algo de encantador.
Deter-me-ei agora de falar na sua belíssima escrita, pois a história também tem muito para dizer. Em O Prenúncio das Águas, o leitor é enviado para o Rio do Anjo, uma aldeia alentejana, recheada de lendas e habitantes típicos de uma aldeia portuguesa, que devido a uma barragem, será submersa pelas águas do rio. Os dias finais desta aldeia são nos relatados, na 1º pessoa, por 5 habitantes : um rapaz de nome Pedro, Ivo,um homem de 60 anos, Filomena, uma filha de emigrantes em França que retorna à sua terra de origem, Ausenda,uma das irmãs Matias Branco e Sebastiana, a habitante mais idosa da aldeia, considerada uma bruxa pelas crianças. É através da visão de cada uma delas que vemos perspectivas completamente diferentes sobre o triste, mas inevitável fim da aldeia. É curioso como Rosa Lobato de Faria consegue, graças ao seu talento, escrever como se fosse 5 pessoas ao mesmo tempo. O capítulo de cada personagem começa e o leitor sabe instantaneamente que personagem é, apenas porque a sua voz característica é logo ouvida.
Apesar de haver uma certa previsibilidade no caminho de cada personagem e no fim da história, não há um único momento em que não haja a esperança de um novo rumo das coisas, em que não vibremos e nos revoltemos com as personagens. Como disse, a história trata de um tema muito mundano, real, mas talvez seja essa a característica que lhe confere algo tão especial. Rosa Lobato de Faria é uma escritora que recomendo. Ler os seus livros é puro deleite.
Classificação: 9/10 - Excelente

domingo, 28 de agosto de 2011

Dead to the World (Sangue Oculto), de Charlaine Harris

Sinopse: Sookie terminou a sua relação com Bill após considerar que ele a traiu. Um dia, quando sai do trabalho para casa, depara-se com um vampiro nu e desorientado. Rapidamente ela percebe que ele não tem a mínima ideia de quem é nem para onde vai, mas Sookie sabe: ele é Eric e parece tão assustador e sexy - e morto - como no dia em que o conheceu. Mas agora como Eric está com amnésia, torna-se doce e vulnerável, e necessita da ajuda de Sookie - porque seja quem for que lhe tirou a memória, agora quer tirar-lhe a vida. A investigação de Sookie leva-a a uma batalha perigosa entre bruxas, vampiros e lobisomens. Mas pode existir um perigo ou ameaça ainda maior - ao coração de Sookie, porque estando Eric mais gentil e mais doce... é muito difícil resistir.
A minha opinião: Este quarto livro da saga surpreendeu-me. Apesar de ser mais parado do que o habitual, não perde a capacidade de nos prender até à última página. Neste volume, Sookie tem nas suas mãos dois problemas para resolver: o feitiço lançado pelas bruxas em Eric, que o deixa amnésico e com uma personalidade bem diferente, assim como o desaparecimento do seu irmão, Jason. Só posso dizer que, como fã incondicional de Eric, adorei o protagonismo que lhe foi dado e o facto de Bill ter (quase) desaparecido.
Em Dead to the world, houve mais um pequeno grande avanço no conhecimento deste mundo sobrenatural (não só em relação às novas criaturas como as bruxas, wiccans e fadas, mas também em relação aos já conhecidos metamorfos e lobisomens). Charlaine Harris sabe como prender o leitor e levantar gradualmente o véu, pelo que estou muito curiosa em relação ao que me espera nos outros livros, especialmente para conhecer o papel das fadas neste mundo sobrenatural.
E por fim, aquilo que digo constantemente em relação aos livros desta saga super consistente. É sempre difícil adivinhar o que nos espera na página seguinte, mas certamente será uma boa mistura de mistério, acção, fantasia e humor. O facto de ler a saga na sua língua original só a torna ainda melhor. Neste volume em particular, Harris deu ênfase às minhas personagens favoritas, pois Sookie continua como uma excelente narradora, sendo que consegue perfeitamente encaixar-nos na sua cabeça e Eric mostra uma nova faceta, mas não menos apetecível. Dito isto, espero ler o próximo livro brevemente, pois entre outras coisas, a história de Jason foi deixada demasiado em aberto para não se ter uma grande vontade de saber o que lhe acontece.
Classificação: 8/10 - Muito Bom

Saga Sangue Fresco - opiniões :

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Quando Lisboa Tremeu, de Domingos Amaral

Sinopse: Lisboa, 1 de Novembro de 1755. A manhã nasce calma na cidade, mas na prisão da Inquisição, no Rossio, irmã Margarida, uma jovem freira condenada a morrer na fogueira, tenta enforcar-se na sua cela. Na sua casa em Santa Catarina, Hugh Gold, um capitão inglês, observa o rio e sonha com os seus tempos de marinheiro. Na Igreja de São Vicente de Fora, antes da missa começar, um rapaz zanga-se com a sua mãe porque quer voltar a casa para ir buscar a sua irmã gémea. Em Belém, uma ajudante de escrivão assiste à missa, na presença do rei D.José. E, no Limoeiro, o pirata Santamaria envolve-se numa luta feroz com um gangue de desertores espanhóis. De repente, às nove e meia da manhã, a cidade começa a tremer. Com uma violência nunca vista, a terra esventra-se, as casas caem, os tectos das igrejas abatem, e o caos gera-se, matando milhares. Nas horas seguintes, uma onda gigante submerge o Terreiro do Paço, e durante vários dias incêndios colossais vão aterrorizar a capital do reino. Perdidos e atordoados, os sobreviventes andam pelas ruas, à procura dos seus destinos. Enquanto Sebastião José de Carvalho e Melo tenta reorganizar a cidade, um pirata e uma freira tentam fugir da justiça, um inglês tenta encontrar o seu dinheiro, e um rapaz de doze anos tenta encontrar a sua irmã gémea, soterrada nos escombros. (retirado de http://www.leya.com/gca/?id=316)

A Minha Opinião: Quando Lisboa tremeu relata uma história que tem como cenário a catástrofe de 1 de Novembro de 1755 em Lisboa. Dividido em 4 partes - Terra, Água, Fogo, Ar - o leitor vai acompanhando a destruição de Lisboa, primeiro pelo terramoto, mas seguidamente pelos tsunamis e incêndios.
Na capa, é nos dado a conhecer que o dia de todos os santos mudaria a vida de 5 pessoas para sempre. São elas o pirata, a irmã Margarida, o comerciante inglês Hugh Gold, Bernardino e o rapaz. A história de cada uma delas é-nos contada pelo pirata Santamaria e desde logo nos damos conta de que as suas histórias são bastante peculiares. A maneira com que Santamaria relata os acontecimentos, deixando algumas frases suspeitas sobre o que se passará no futuro, cria também algum suspense, o que, claro, contribui para que o leitor fique rapidamente preso à história.
Sem dúvida que os pontos positivos deste livro são estas personagens, bem desenvolvidas e tão diferentes entre si que, por um acaso do destino, se vão cruzando no meio da catástrofe que assolou Lisboa. Deixo também uma nota para o final, que não só foi comovente como também imprevisível.
No entanto, o livro peca na questão histórica. Pelo menos eu procurava um pouco mais de história neste livro. É sem dúvida muito engraçado ler algo que tem lugar numa cidade que me é muito familiar e conseguir imaginar os espaços como se fosse eu a percorrê-los, durante um acontecimento que me é também familiar, mas gostaria de ter retirado mais um pouco de informação do que a que retirei.
Talvez tivesse umas expectativas um pouco elevadas em relação a este livro, no entanto, não deixo de reconhecer que é uma leitura agradável, com capacidade para agarrar o leitor, e que dá uma boa visão sobre este acontecimento.
Classificação: 7/10 (Bom)

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

As Virgens de Vivaldi, de Barbara Quick

Sinopse: As Virgens de Vivaldi traz-nos a Veneza barroca, esplendorosa e decadente de inícios de Setecentos, la Serenissima, num fresco luminoso e negro de uma sociedade marcada pela festividade exuberante do espírito carnavalesco e pelo peso castrador de uma mentalidade arreigadamente puritana. É a Veneza de Antonio Vivaldi, dos grandes génios e das obras-primas musicais, da riqueza cultural, das festas em opulentos ambientes palacianos, mas também do medo, da opressão, do Grande Inquisidor e de todos aqueles que a sociedade ostraciza. e é através do olhar de anna Maria - uma das jovens acolhidas pelo Ospedale della Pietá, virtuosa do violino e aluna predilecta do grande maestro Vivaldi - que podemos observar esse fresco, que ficamos a conhecer a sua fascinante história de vida, o quotidiano dentro das paredes do Ospedale, as intrigas da Veneza do século XVIII e um pouco do legado musical e da vida do próprio Vivaldi.

A minha opinião: As Virgens de Vivaldi conta-nos a história de Anna Maria dal Violin, a conhecida rapariga do Ospedalle della Pietá a quem o seu professor, Vivaldi, dedicou várias obras dado o seu virtuosismo ao tocar violino.

A nível histórico, este livro foi uma agradável surpresa, pois não conhecia o Ospedalle della Pietá, uma instituição que acolhia bebés enjeitados. Foi muito interessante ter uma ideia de como se organizava e o porquê do seu sucesso em criar jovens músicas, pois a maioria das figli di coro (raparigas que revelavam ter talento musical) permanecia lá toda a sua vida e não eram poucas as vezes que se apresentavam em concertos, visto pertencerem a uma escola de música bem famosa na altura, onde o Padre Vermelho foi professor. Curioso que Vivaldi não aparece como uma personagem muito central neste livro, ainda que, a meu ver, a autora conseguiu transmitir de forma subtil as características principais que lhe são atribuídas e alguns aspectos da sua biografia, como o caso da misteriosa cantora Anna Giraud. Parece de facto que Vivaldi, Anna Maria e la Serenissima revivem nas páginas deste livro.

A forma como o leitor conhece a historia de Anna Maria dal Violin é outro ponto positivo. Primeiro, temos as cartas que Anna Maria escreveu para a mãe enquanto jovem, com a esperança de que esta as lesse algum dia. Mas estas cartas relatam apenas um pouco da sua vida, pelo que são intercaladas pela voz de uma Anna Maria mais velha que revela o resto dos acontecimentos da sua juventude com outros olhos.

Ainda assim, houve algumas coisas que me decepcionaram neste livro. A maior preocupação de Anna Maria era encontrar a sua mãe e muita da acção do livro desenrola-se à volta dessa demanda. Mesmo para leitores pouco perspicazes, parece-me que, salvo algumas reviravoltas, tudo é bastante previsível. Acima de tudo, não foi um livro memorável. Apesar de uma escrita floreada e bastante agradável de se ler, não conseguiu, infelizmente, estabelecer comigo uma grande ligação.

Classificação: 6/10 (Bom, mas deixa a desejar)

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Os Pilares da Terra - Volume 2, de Ken Follett

Sinopse: Publicado pela primeira vez em 1989, Os Pilares da Terra surpreendeu o universo editorial ao tornar-se gradual mas inabalavelmente um clássico da ficção histórica, que continua a maravilhar leitores de todo o mundo e que a Presença lança agora em dois volumes. Na Inglaterra do século XII, com a guerra civil como pano de fundo, Tom, um humilde pedreiro e mestre-de-obras, tem um sonho majestoso - construir uma imponente catedral, dotada de uma beleza sublime, digna de tocar os céus. E é na persecução desse sonho que com ele e a sua família vamos encontrando um colorido mosaico de personagens que se cruzam ao longo de gerações e cujos destinos se entrelaçam de formas misteriosas e surpreendentes, capazes de alterar o curso da história - Ellen, uma mulher enigmática que vive à margem da sociedade e cujo passado esconde um segredo, Philip, prior da cidade de Kingsbridge, que vai supervisionar a construção da catedral, Aliena e Richard, ricos herdeiros destituídos das suas terras e títulos, William, o cavaleiro sem escrúpulos, e Waleran, o bispo disposto a tudo para obter o que pretende. À medida que assistimos à edificação de uma obra única envolvendo suspense, corrupção, ambição e romance, a atmosfera autêntica do quotidiano da Europa medieval em toda a sua grandeza absorve-nos irremediavelmente, ousando desafiar os limites da nossa imaginação. Recriação magistral de um tempo de conspirações, delicados equilíbrios de poder e violência, Os Pilares da Terra é decididamente a obra-prima de um autor que já vendeu 90 milhões de livros em todo o mundo.

A minha opinião: Assim que acabei de ler o volume 1, comecei logo a ler este, visto que estava já demasiado embalada na história para deixar o livro original a meio. Curiosamente, apesar de ter gostado bastante do primeiro volume, este prendeu-me ainda mais, tanto que dei por mim a ver os números das páginas a voar de tão embenhada que estava na história. Na verdade, apesar do livro ter, no total, mais de 1000 páginas, não me lembro de ter havido algum momento em que não tivesse vontade de continuar e descobrir o que me esperava na página seguinte, pois tem todos os ingredientes que cativam o leitor - bastante acção, algum romance, suspense e uma época histórica interessante - e cada acontecimento era descrito com a dose certa.

A minha expectativa em relação ao rumo das personagens foi plenamente correspondida e algo de que gostei muito ao longo deste volume foi ver um grande desenvolvimento das mesmas e constatar que Ken Follett criou personagens muito ricas e credíveis, que não se limitam a corresponder a um estereótipo de cruéis ou de boazinhas. Ao acompanharmos as personagens quase durante a sua vida inteira, podemos ver que as personagens mais boas também têm as suas imperfeições e que as mais cruéis, apesar de tudo, não são desprovidas de coração, pois em cada mini-capítulo, podiamos ver os acontecimentos do prisma de uma personagem, conhecendo os seus planos e pensamentos. Assim, não foram poucas as vezes em que me surpreendi com algumas delas.

Jack, por exemplo, foi uma das personagens que mais gostei e que me foi conquistando à medida que crescia. Se por um lado, enquanto jovem era um bocado estranho, enquanto adulto foi uma surpresa. A sua busca ousada e incansável pela verdade sobre o seu pai, a sua inteligência, determinação e criatividade que o permitiram contruir a catedral dos seus sonhos foram algo que admirei muito nesta personagem. Quando descobriu a solução para o problema das fendas causadas pelo vento mais forte nas partes mais elevadas da catedral, que nada mais eram que os arcobotantes, fiquei extremamente impressionada, pois estes eram utilizados antes, na arquitectura românica, mas não estavam à vista. Uma ideia tão inovadora só poderia vir de uma mente brilhante.

Aliena foi também uma personagem de que gostei bastante. Determinada e perspicaz, mostra-nos que apesar das dificuldades da vida, é possível resistir e ser bem sucedido.

Tom, o pedreiro foi uma das personagens por quem tive um carinho especial. Foi o seu sonho de constuir uma catedral que basicamente deu origem a esta história. Graças à sua paixão pela construção, passa também a mensagem de que a persecução dos nossos sonhos é algo essencial e talvez não tão irreal como os outros e nós podemos pensar.

Por fim, Philip. Uma personagem esplêndida. Perseverante é certamente a palavra que o descreve. Desde o início nos apercebemos de que não é um monge qualquer, é alguém capaz de fazer a diferença, devoto de verdade e que se preocupa muito com os meios para atingir os fins. O seu bom coração parece que não vale de muito, quando o seu esforço para recuperar Kingsbridge é continuamente ameaçado por algum plano de Waleran e William. Porém, Philip consegue sempre levantar-se do chão e ser até ajudado pelos seus inimigos. Uma personagem memorável. O mal triunfa sempre que os bons homens não fazem nada. Neste caso, Philip não deixa que isso aconteça.

Como a acção decorre num espaço temporal largo (cerca de 50 anos), não só podemos acompanhar uma grande parte da vida de todas as personagens, como também podemos vê-las em diferentes condições, quando estão no auge ou na miséria, quando têm tudo, e quando não têm nada. Porque se há algo que este livro tem de muito bom, é o facto de que retrata perfeitamente o instável contexto político e social da Idade Média e, portanto, as batalhas, as alianças, traições, violência, conspirações e a ambição desmedida de várias personagens que têm lugar na época medieval, e principalmente num tempo de guerra civil.

Como romance histórico, gostei bastante do facto de ser bastante detalhado na descrição da sociedade medieval, ao nível da sua organização, dos grupos sociais, das cidades, da política e da importância do Clero, que muitas vezes, não servia os interesses de Deus, mas os seus. Foi também muito interessante ver a importância que a existência de uma catedral tinha na vida dos habitantes da cidade.

Após ler Os Pilares da Terra, nunca mais poderei olhar as catedrais da mesma maneira. Neste livro, a paixão de Tom e Jack (e do autor, por detrás) que se vê nas descrições sobre o projecto e nas ideias que tinham, leva também o leitor a ver as catedrais não só como algo imponente, mas com um trabalho enorme ao nível de proporções, medidas, técnicas que está na base da sua construção. É muito curiosa também a passagem do estilo romântico de Tom para o gótico de Jack, a surpresa e admiração das pessoas ao ver a verticalidade e luminosidade das catedrais góticas que era algo completamente novo para elas. Nunca tinha realmente pensado nestas questões antes, mas este livro reavivou-me a admiração que tenho pela arte, tanto que enquanto o lia, ia sempre consultando um manual de história da arte e vendo as catedrais e técnicas que era faladas.

Após escrever tanto sobre este livro, é quase como se o final tivesse vindo cedo demais. Não me importaria de ler mais umas páginas deste magnífico livro, que contém mensagens belíssimas, personagens que dificilmente vou esquecer e uma história que não me decepcionou de qualquer forma.

Classificação: 9/10 (Excelente)

P.S - Um obrigada a uma pessoa muito simpática, que me emprestou o primeiro volume e deu o empurrão para que este livro passasse à frente dos outros da minha interminável lista :)

(A minha opinião sobe o volume 1)

domingo, 17 de julho de 2011

Os Pilares da Terra , de Ken Follett - Volume I

Sinopse: Na Inglaterra do século XII, Tom, um humilde pedreiro e mestre-de-obras, tem um sonho majestoso – construir uma imponente catedral, dotada de uma beleza sublime, digna de tocar os céus. E é na persecução desse sonho que com ele e a sua família vamos encontrando um colorido mosaico de personagens que se cruzam ao longo de gerações e cujos destinos se entrelaçam de formas misteriosas e surpreendentes, capazes de alterar o curso da história. Recheado de suspense, corrupção, ambição e romance, Os Pilares da Terra é decididamente a obra-prima de um autor que já vendeu 90 milhões de livros em todo o mundo.

A minha opinião: Visto que este livro é apenas metade do livro original, não me vou alongar muito na opinião, mas sim deixar algumas impressões.

É óbvio que já estava à espera de um grande livro, tendo em conta que apenas li críticas fantásticas sobre o mesmo. Porém não me lembrava já sobre o que se tratava e, portanto, foi uma grande surpresa começar a lê-lo e deparar-me com uma história completamente diferente de tudo o que li até à data.

A acção do livro decorre na época medieval, em Inglaterra. Apesar de não ser uma grande fã desta época, estou a gostar bastante desta história, em parte por causa das personagens. O contexto medieval encontra-se completamente representado por personagens credíveis e que ainda terão muito para dizer. Representando o clero, temos por um lado um bispo corrupto, Waleran, e por outro Philip, um monge com um bom coração e uma perseverança espantosa. A nobreza, também com dois lados, é representada por um por William, um homem sem escrúpulos, a meu ver repugnante, que apenas se interessa por terras e títulos e por outro por Aliena e Richard que são obrigados a lutar para recuperar o estatuto que perderam. Por fim, a família de Tom, o pedreiro que tem como sonho construir uma catedral, representa o povo, que humildemente luta pela sobrevivência.

No início, as histórias de cada personagem são apresentadas separadamente, porém rapidamente se interligam. Nada acontece por acaso e assim que nos damos conta, já todas as personagens se conhecem e contribuem para a criação de uma atmosfera tensa, onde as acções de uma personagem influenciam a vida das outras. Como pano de fundo ou elemento central - ainda não me decidi bem - está a construção da catedral de Kingsbridge. Caracterizo-a com uma certa ambiguidade, pois houve momentos em que era claramente uma protagonista, porque foi ela que serviu como elo de ligação entre as personagens todas. Porém, a partir de certa altura, esta parece deixar de ter tanta importância, ficando como algo que vai sendo construído lentamente. É quase como um elemento que se vai manifestando, nuns momentos mais, noutros menos.

Ainda está tudo muito em aberto, mas estou muito curiosa em relação à história de Ellen e ao rumo que este grande livro (penso que o posso dizer já) vai tomar.

(A minha opinião sobre o volume 2 d' Os Pilares da Terra, pode ser consultada aqui)

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O Perfume, de Patrick Süskind

Sinopse: Esta estranha história passa-se no século XVIII e é fruto de um extraordinário trabalho de reconstituição histórica que consegue captar plenamente os ambientes da época tal como as mentalidades. O protagonista é um artesão especializado no ofício de perfumista, e essa arte constitui para ele – nascido no meio dos nauseabundos odores de um mercado de rua – uma alquímica busca do Absoluto. O perfume supremo será para ele uma forma de alcançar o Belo e, nessa demanda nada o detém, nem mesmo os crimes mais hediondos, que fazem dele um ser monstruoso aos nossos olhos. Jean-Baptiste Grenouille possui no entanto uma incorrupta pureza que exerce um forte fascínio sobre o leitor. O Perfume, publicado em 1985, de um autor então quase desconhecido, foi considerado um dos mais importantes romances da década e nunca mais deixou de ser reeditado desde então, totalizando os 4 milhões de exemplares vendidos, só na Alemanha, e 15 milhões em países estrangeiros. Foi traduzido em 42 línguas. Este fenómeno transformou-o num dos mais importantes livros de culto de sempre. Em 2006, O Perfume passa a ser uma longa-metragem inspirada no romance de Patrick Süskind.

A minha opinião: Sublime. O Perfume é um livro fascinante e aterrador, com o poder de atrair ao mesmo tempo que repela. Esta capacidade é conseguida por inúmeros aspectos que fazem com que este livro sobressaia imediatamente. Apesar de ter lido outro livro do autor -O Contrabaixo- e ter gostado, este tem algo muito especial, pelo que não é por acaso que é considerado a obra-prima de Patrick Süskind.

Algo que logo se destacou foi a personagem central deste livro. Grenouille não pode ser considerado um ser humano. É o mal personficado num ser abominável, com uma inexplicável sensibilidade olfativa, mas que não possui odor próprio. Esta falta de odor é como se fosse uma falta de identidade. Grenouille não sente, como os seres humanos, uma necessidade de sociabilizar e é capaz de persistir em situações que seres humanos normais não sobreviveriam. Aos seus olhos, é como se fosse um deus, no entanto, é visto como um ser inofensivo e até desprezível pelo resto das pessoas. Por algumas destas características e por outras, é frequentemente comparado com uma carraça. Não posso dizer que me identifiquei com a personagem como é costume, mas ela manteve-me intrigada e, misteriosamente, houve alturas em que não o conseguia ver como um assassino.

Esta estranha personagem, usando o seu dom olfativo que o permite reconhcer os objectos pelo odor vai interioizando as técnicas do fabrico de perfumes e da extracção de essências de flores. A aprendizagem destas técnicas tem como objectivo final o fabrico dum perfume que contivesse uma essência única, a essência de belas jovens virgens, como que o auge da beleza olfativa. É na procura desta última essência que Grenouille assassina várias jovens, retendo no entanto, o que para ele era significativo - o seu odor.

Esta obcessão ao longo do livro gerada em torno dos odores é algo único. Atrevo-me a dizer que a minha percepção olfativa parece já não ser a mesma, principalmente depois deste parágrafo:

"De facto, os homens podiam fechar os olhos ante a grandiosidade, ante o louvor, ante a beleza e fechar os ouvidos a melodias ou palavras lisonjeiras. Não podiam, no entanto, furtar-se ao odor, dado que o odor era irmão da respiração. Penetrava nos homens em simultâneo com ela; não podiam erguer-lhe obstáculos, caso lhes interessasse viver. E o odor penetrava directamente neles até ao coração e ali tomava decisões sobre a simpatia e o desprezo, a repugnância e o desejo, o amor e o ódio. Quem controlava os odores, controlava o coração dos homens."

Esta visão é perturbadora. Ao longo do livro, apercebemos nos em várias situações da importância de um sentido subestimado - o olfacto. É precisamente a ausência de odor que faz com que os seres humanos não se apercebam do perigo que é Grenouille ou que o amem quando ele está "disfarçado" com um perfume. Estas mudanças de comportamento em relação a Grenouille são originadas pelo odor, mas os seres humanos nunca detectaram razão das mesmas, porque respirar é algo inato.

O final do livro foi para mim tão imprevisível que tive de parar uns momentos para absorver o que tinha acabado acontecer. Numa palavra, genial. (spoiler a seguir, passar o cursor) O leitor não fica com a sensação de que houve um prevalecimento do bem porque já não resta nada de Grenouille na Terra. Para mim, ele conseguiu o que queria, foi absorvido pelos seres humanos que o comeram e incorporado por estes, possuindo, finalmente um odor.

Compreendo agora a razão do seu sucesso. O Perfume é um livro único, difícil de pousar e com uma história dificil de esquecer. Ao acabá-lo, percebo que a sua verdadeira riqueza está nas entrelinhas, ainda que eu, muito provavelmente, não a tenha captado totalmente. Por isso mesmo sei que o irei reler dentro de cinco, seis ou sete anos. Captar a verdadeira essência deste livro poderá ser difícil, mas será certamente recompensador. Recomendo.

Classificação : 10/10

Nota: Após escrever esta opinião, aventurei-me pela internet e descobri pontos de vista muito interessantes sobre a história relatada que vos aconselho a ler:
- Opinião no blog nlivros
- Opinião no blog Há sempre um livro à nossa espera
- O ensaio de Sun-chieg Liang sobre a natureza de Grenouille e a ideia de Eu cheiro, logo existo.

domingo, 26 de junho de 2011

Musicofilia, de Oliver Sacks

Sinopse: Com a mesma marca de compaixão e erudição de O Homem Que Confundiu a Mulher com um Chapéu, Oliver Sacks explora o lugar que a música ocupa no cérebro e como é que ela afecta a condição humana. Em Musicofilia, o autor apresenta uma variedade daquilo que designa por «desalinhamentos musicais». Entre eles: um homem atingido por um relâmpago que subitamente deseja ser pianista aos quarenta e dois anos; um grupo de crianças com síndrome de Williams, que desde a nascença são hiper-musicais; pessoas com «amusia», para quem uma sinfonia soa a ruído de panelas; e um homem cuja memória dura apenas sete segundos excepto quando se trata de música.


A Minha Opinião: “A música faz parte do ser humano e não há cultura em que não conheça um desenvolvimento eminente ou não seja estimada.” Parece, portanto, que a música exerce um grande poder sobre nós, seres humanos, sem que tenhamos, às vezes, consciência disso.

Li Musicofilia para realizar um trabalho escolar, mas logo no prefácio percebi que ia ser uma experiência muito mais interessante do que estava à espera. A música é uma das coisas mais importantes na minha vida, não só porque toco um instrumento e gosto de ouvir vários géneros musicais, mas também porque teve uma grande influência no que sou hoje.

Ao lermos este livro, apercebemo-nos de que ouvir música é uma
experiência extremamente rica, não só a nível auditivo como também a nível emocional e motor, pois por detrás dessa experiência existe um circuito neuronal altamente complexo. A nossa resposta emocional à música, por exemplo, envolve não só as regiões corticais como as subcorticais do cérebro.

Em Musicofilia, Oliver Sacks (neurologista) mostra-nos essa mesma relação existente entre o
cérebro e a música e o modo como, internamente, reagimos à mesma, com o estudo da resposta musical de doentes com diversas patologias, como demência, parkinson, síndrome de Tourette , etc. É através dos casos de pacientes seus, correspondentes e estudos científicos bem documentados que a pouco e pouco nos vamos dando conta do verdadeiro poder da música e das suas aplicações práticas. Esta tem um importante papel não só a nível
emocional, como também anatomicamente, ao moldar o nosso cérebro. O objectivo deste livro é que o leitor altere a sua visão da percepção física e emocional da música e a razão pela qual esta, após tantos anos, se mantém como algo tão essencial em cada cultura. Para tal, o livro organiza-se em vários capítulos, cada um tendo um aspecto relacionado com o cérebro e a música, como por exemplo, a existência de vários tipos de surdez, aplicações da música como terapia para várias doenças, casos de pessoas que têm ataques epilépticos causados pela música, outras que desenvolvem um gosto repentino pela mesma (musicofilia), importância da música em doentes com Síndroe de Williams, etc.

Após a leitura de Musicofilia, a minha visão sobre a música e do cérebro ficou bastante mudada,pois não tinha consciência da grande influência que a música exerce sobre o cérebro
e da quantidade de casos neurológicos que estão relacionados com essa influência. Nunca pensei realmente na maneira como o cérebro processa a música nem que os seus elementos – ritmo, tons, etc – se encontravam distribuídos por várias áreas cerebrais. Porém, uma das coisas que mais me chamou a atenção foram as aplicações que tem para curar ou melhorar o estado de pacientes com várias doenças. Esta aplicação da música como uma ajuda real neurológica e com benefícios físicos além do bem estar, que era dos únicos que tinha conhecimento porque o experenciava, ajudaram-me a perceber que a música é mais do que uma arte e possui um verdadeiro poder curativo que começou a ser investigado e aplicado nos últimos anos, mas que ainda não se descobriu por completo.

Uma leitura memorável, que aconselho a todos os músicos, mas também a todos os que sentem uma curiosidade pelo funcionamento do cérebro, casos médicos interessantes e claro, a todos aqueles que desejam descobrir um pouco sobre o poder da música neles próprios. Garanto que, com a variedade de casos e situações descritas no livro, verão a música como algo completamente diferente e com um valor muito maior. Fiquei muito bem impressionada com o livro deste neurologista.

Classificação: 8/10 (Muito Bom)

domingo, 8 de maio de 2011

Brinquedos de Infância - Tertúlia Mimosa

Caríssimos leitores, durante estes dias vou estar a empacotar as coisas para mudar-me de casa. Não se assustem, não vou falar do maravilhoso que é mudar de casa- porque pelo menos até agora não tem sido, estou até com vontade de nunca mais comprar livros na vida - mas sim do maravilhoso que é recordar alguns momentos da infância.

No verão, a Notícias Magazine publicou um artigo sobre os brinquedos de eleição da infância de algumas personagens públicas. Duas delas, Isabel Alçada e Inês Pedrosa, escolheram pelo menos um livro. Isabel Alçada escolheu o primeiro livro que leu completo em francês, Le
s Malheurs De Sophie. No caso de Inês Pedrosa, a sua lista continha apenas livros.

Grande parte das coisas que estive a empacotar eram livros e é impossível, ao pegar nos muitos livros que fizeram parte da minha infância, não me sentar e recordar tantos momentos. E nesses momentos de nostalgia, percebi que tenho mais recordações dos livros de Anita e de fábulas do que bonecas e outros jogos.

Se tivesse de escolher um título para o meu brinquedo de infância, escolheria Anita vai à escola. Recebi-o de uma prima minha, uma edição já bastante antiga e desgastada quando mo leram pela primeira vez, mas ainda assim, um livro que rapidamente se tornou no meu preferido e que acabei por saber de memória. Foi debruçada sobre ele que aprendi a ler, juntando primeiro uma letra com outra, depois sílaba com sílaba até formar orgulhosamente uma palavra.

Claro que a partir do momento em que sabia ler, muitos livros se seguiram, mas este é aquele que recordo com mais carinho e que, caso tivesse de deixar todos os meus brinquedos de infância atrás, seria este o que eu levaria (ok, provavelmente também levaria um ursinho de peluche).


E vocês também têm um livro de infância que recordem com carinho especial?

sábado, 30 de abril de 2011

O rapaz do pijama às riscas, de John Boyne

Sinopse: As barreiras podem dividir-nos, mas a esperança vai unir-nos.

Bruno, de nove anos, nada sabe sobre a Solução Final e o Holocasto. Ele não tem consciência das terríveis crueldades que são infligidas pelo seu país a vários milhões de pessoas de outros países da Europa. Tudo o que ele sabe é que teve de se mudar de uma confortável mansão em Berlim para uma casa numa zona desérica, onde não há nada para fazer nem ninguém com quem brincar. Isto até ele conhecer Shmuel, um rapaz que vive do outro lado da vedação de arame que delimita a sua casa e que, estranhamente, tal como todas as outras pessoas daquele lado, usa o que parece ser um pijama às riscas. A amizade com Shmuel vai levar Bruno da doce inocência à brutal revelação. E ao descobrir aquilo de que, involuntariamente, também ele faz parte, Bruno vai, inevitavelmente, ver-se enredado nesse monstruoso processo.

A Minha Opinião: Depois de ouvir opiniões tão boas sobre este livro e de já saber em linhas gerais do que se tratava, pensei que iria ler algo maravilhoso, porém, fiquei ligeiramene decepcionada.

A história do livro é, no entanto como me disseram, belíssima. Bruno, um rapaz alemão de 9 anos, muda-se de Berlim para o local de um campo de concentração onde conhece Schmuel, um rapaz judeu que lá se encontrava. Separados por uma rede, os dois vão iniciar uma forte amizade e falar sobre o que os afligia, com uma simplicidade que provoca nos leitores uma reflexão sobre a injustiça do holocausto. Bruno não compreende muito daquilo que se está a passar à sua volta, pelo contrário nós, leitores, percebemos.

Este pequeno livro encerra uma poderosa mensagem através de uma história simples e uma linguagem quase infantil. Talvez pela sua simplicidade, é capaz de arrancar sorrisos e lágrimas a leitores de qualquer idade, porque, no fundo, a perspectiva de uma criança inocente sobre a injustiça que o seu amigo judeu sofre é comovente e enternecedora.

No entanto, não gostei mesmo nada de Bruno, o miúdo alemão. Certamente que o autor o fez parecer como uma criança ingénua e com os defeitos que crianças de 9 anos têm, mas o livro era mais centrado nas acções de Bruno do que no seu amigo Schmuel que, pelas suas qualidades e, de certa forma, maturidade, me fizeram gostar muito dele. Acho que por isso o livro nunca chegou a atingir o nível de maturidade que eu estava à espera, ainda que este ponto esteja mais relacionado com as minhas expectativas do que com outra coisa qualquer.

Apesar de tudo, é um bom livro que tem a capacidade de agarrar o leitor desde o início. Li-o só de uma vez, mas quando o pousei, reli o final. Para mim, foi a melhor parte.

Classificação: 7/10 - Bom


quarta-feira, 27 de abril de 2011

Feira do Livro de Lisboa 2011

Caros leitores,

o evento pelo qual ansiosamente esperamos durante todo o ano - a feira do livro - finalmente chegou! Os livros voltam ao Parque Eduardo VII já amanhã, dia 28 de Abril.

O horário da feira, disponibilizado no site, é o seguinte:

Segunda a quinta - 12.30 às 23.00
Sexta - 12.00 às 24.00
Sábado - 11.00 às 24.00
Domingo - 11.00 às 23.00

À semelhança do ano passado, haverá uma Happy Hour - a Hora H - de segunda a quinta, das 22 00 h às 23 00 h. Nesta altura, os livros com mais de 18 meses terão 50 % de desconto nas editoras que aderirem. É uma excelente iniciativa, encontram-se muito bons títulos a preços tentadores! Porém, sugiro que venham um pouco antes e confirmem a data de edição dos livros.

O evento durará até dia 15 de Maio.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

O Décimo Terceiro Conto, de Diane Setterfield

Sinopse: Vida Winter passou quase seis décadas a iludir jornalistas e admiradores acerca das suas origens, mantendo oculto o seu passado enigmático, tão enigmático como a sua primeira obra, intitulada Treze Contos de Mudança e Desespero, e que continha apenas doze. Porém, tudo isto pode estar prestes a mudar quando Margaret Lea, biógrafa amadora, recebe uma carta da famosa escritora convidando-a a redigir a sua biografia. Pela primeira vez, Vida Winter vai contar a verdade, a verdade acerca de uma família atormentada por segredos e cicatrizes. Mas poderá Margaret confiar totalmente nela? E terá sido ela eleita depositária das confidências por um motivo inocente?

A Minha Opinião: O Décimo Terceiro Conto foi um dos muitos livros que descobri nas minhas visitas a outros blogs literários e que, provavelmente, nunca leria se não os visitasse.

Devo dizer que fiquei completamente surpreendida com este livro! Tive todos os "sintomas" de quando leio um livro que adoro: o número de páginas parecia que voava; era-me muito difícil arranjar um ponto para parar de ler, mas também quando o fazia, continuava embrenhada na história e quando faltavam poucas páginas para acabar, o meu desejo era que simplesmente não acabasse tão cedo.

O Décimo Terceiro Conto, não só pela escrita cativante, como também pelo enredo absorvente e o seu ambiente sombrio, prendeu-me desde a primeira página. Porém, penso que o que me fez realmente adorar o livro foram as personagens.

Margaret Lea era uma bibliófila e portanto, foi fácil identificar-me com ela desde o início. Ainda assim, não foi só esse facto que me fez gostar dela. Durante o livro, vamos saltando do presente para o passado, do passado para o presente. O passado consiste na narração de Vida Winter sobre a sua infância e adolescência. O presente, no momento em que ela a conta e Margaret a vai registando, para depois escrever a biografia de Vida Winter, que lhe fora incubida pela mesma. No entanto, Margaret não se vai limitar a registar a história que Vida lhe conta, até porque esta, até à data, contava sempre uma história diferente sobre a sua infância nas entrevistas e desta forma, não se sabia a verdade sobre os primeiros tempos da escritora, porque não havia nenhum registo de Vida Winter antes de se tornar numa romancista. Margaret vai então investigando provas que confirmem a história que lhe conta e faz um pouco o papel de detective, revelando ser bastante perspicaz. Gostei muito desta personagem, até porque ela também vai revelar ser possuidora de uma história peculiar que eu achei muito bém construída e adequada ao ambiente sombrio do livro.

Vida Winter é sem dúvida, uma mulher enigmática. Gostei logo de como relatava a sua infância através de um discurso onde a escolha das palavas não era feita ao acaso. Achei-a um personagem muito credível, com um carácter sereno, mas imponente, que me conseguiu prender a atenção desde que escreveu a carta a pedir os serviços de Margaret Lea. Com todo o mistério à volta dela, era como se me tivesse lançado uma teia da qual só me consegui desprender quando acabei o livro.

Como único ponto negativo, apenas aponto o facto de ter sentido falta, no final, de mais algumas explicações que me permitiriam perceber melhor a reviravolta que aconteceu no final, porque estava à espera que tivesse sido melhor descrita. Ainda assim, não sei bem se posso apontá-lo como um ponto negativo, porque não sei se seria próprio de Vida Winter deixar o leitor completamente elucidado sobre a sua vida, sem que houvesse ainda algum mistério de roda dela.

O Décimo Terceiro Conto é um livro fantástico cuja leitura me deu um enorme prazer de ler e que recomendo vivamente. Um autêntico exemplo de um livro que não largamos até saber o seu desenlace.

Classificação: 9 /10

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A Alma Trocada, de Rosa Lobato de Faria

Sinopse: É um lugar comum dizer-se que determinada orientação sexual não é uma escolha, porque, se fosse, ninguém escolheria o caminho mais difícil. Foi esse caminho mais difícil que Teófilo teve de percorrer, desde a incompatibilidade com os pais, aos desencontros dentro de si próprio, chegando mesmo a acreditar que alguém lhe tinha trocado a alma...

A Minha Opinião: Após ter lido A Trança de Inês, um livro da autora que simplesmente adorei, tinha expectativas elevadas em relação a este, não porque a temática me chamasse particularmente a atenção, mas porque já tinha saudades da belíssima expressão escrita de Rosa Lobato de Faria.


Pela segunda vez, apaixonei-me pela prosa da autora. Alguma parte da acção do livro passa-se no Alentejo e devo dizer que a descrição daquele local era maravilhosa, tão credível e tão real, tão chamativa. E a forma como o livro está escrito faz simplesmente com que o leitor se escape da sua mente e entre dentro da cabeça da personagem principal, Téo, sem quase se aperceber.

No entanto, (talvez um pouco pelas expectativas que tinha) o próprio enredo não me chamou tanto a atenção. Houve, certamente, momentos interessantes e personagens com as quais simpatizei, como a avó Jacinta, mas nada de muito memorável se o comparar com A Trança de Inês.

Não deixa de ser um bom livro. Apesar de ter sido em algumas partes demasiado mundano, devido a certos acontecimentos que, a meu ver, não trouxeram nada de novo ao livro, a mensagem durante o mesmo era belíssima: "a alma é indivisível e una, a alma é tua, Teófilo. Tens que aprender a viver com ela".

A Alma Trocada não me causou a mesma impressão que A Trança de Inês, mas continua a ser um livro que prima pela expressão escrita e o problema com que lida (que não me parece ser exclusivamente a homossexualidade, mas sim o sentirmo-nos bem com o que somos e aceitarmo-nos).

Gostei. Rosa Lobato de Faria é uma autora que vou ler brevemente e que aconselho vivamente.

Classificação: 8/10 (Muito Bom)

segunda-feira, 28 de março de 2011

As aventuras de João sem medo, de José Gomes Ferreira

Sinopse: História fantastica que recorre ao imaginário mágico, por vezes de inspiração surrealista, este romance é um prodígio da efabulação e engenho narrativo.

A Minha opinião:
Já tinha ouvido falar no livro As Aventuras de João sem Medo há algum tempo, no entanto, nunca pensei sequer em lê-lo, porque, sendo franca, o título não me puxava de todo.
Foi então que um colega o apresentou à turma, dizendo que a história era uma crítica ao fascismo que o autor ironizava na personagem João sem Medo. (Afinal até parece interessante, não é?)

J
oão sem Medo vive em Chora-que-logo-bebes - "exígua aldeia aninhada perto do Muro constituído em redor da Floresta Branca onde os homens, perdidos dos enigmas da infância, haviam estalado uma espécie de Parque de Reserva de Entes Fantásticos" - onde os choraquelogobebenses passam a vida a choramingar. Porém, um habitante, João sem Medo, é um resistente à choraminguice e um dia decide saltar o Muro. A partir daí, as suas aventuras começam no mundo imaginário.

Um livro divertido e interessante com uma história segmentada em capítulos curtos que apresentam as situações mais estranhas com as quais João sem Medo se depara depois de saltar o Muro, como um encontro com um gramofone com asas, a existência de uma cidade da confusão ou uma conversa com uma menina com pés ocos. Pequenos episódios que proporcionam um escape à realidade e que ao mesmo tempo escondem valiosas mensagens para os leitores.

Por exemplo, quando João sem Medo se depara com dois caminhos: o da felicidade e o da infelicidade, e deve escolher um deles, sabendo que terá que aceitar que lhe cortem a cabeça para seguir o caminho da felicidade. José Gomes Ferreira pega assim numa situação conhecida de outras histórias fantasiosas - na qual uma personagem tem de preferir um caminho a outro, sendo o mais difícil o que revela ser a escolha acertada - para criticar o regime fascista da altura em que não se devia pensar, ou seja aceitar que nos cortassem a cabeça, para se poder ser feliz. Ou então, não tanto no campo de uma metáfora, quando João Medroso é dissolvido na atmosfera e o autor esclarece que esse é "o ar que nós respiramos há muito, apenas em dose menos maciça" (o ar no qual o medo está dissipado).


Como outro ponto positivo, fiquei com uma imagem muito boa em relação ao autor, porque me fez abandonar a faceta mais melancólica que conhecia de José Gomes Ferreira, principalmente no capítulo XII - o do ar envenenado- em que o escritor me apanhou de surpresa e me fez rir um pouco.


Recomendo para todas as idades, pois emprestei-o à minha irmã, de 11 anos, e ela também gostou.


Classificação:
7/10 (Bom)

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sputnik, Meu Amor, de Haruki Murakami

Sinopse: O gelo é frio e as rosas são vermelhas. Estou apaixonada. E este amor vai decerto arrastar-me para longe. A corrente é demasiado forte, não tenho escolha possível. Mas já não posso voltar atrás. Só posso deixar-me ir com a maré. Mesmo que comece a arder, mesmo que desapareça para sempre.

A Minha Opinião : Parti com enormes expectativas para este romance. A capa, o autor, o próprio título, tudo me fazia crer que estava perante um livro que iria adorar. Porém, na primeira página, Murakami deitou por terra tudo aquilo que eu pensava que Sputnik, Meu amor iria ser e ainda assim, não descansei até acabá-lo.

Nunca imaginaria que numa altura tão aterefada um livro pudesse envolver-me da maneira que este o fez. Nunca pensaria que, durante uma semana, um livro pudesse teimar tanto em abandonar a minha cabeça. A verdade é que foi exactamente o que aconteceu.

A história vai se tornando cada vez mais intrigante à medida que prosseguimos a leitura. No início, somos apresentados a uma personagem muito peculiar e lunática com a qual simpatizei desde a primeira página, Sumire. Apesar da história girar à sua volta, o livro é narrado na primeira pessoa por um professor de primária, grande amigo desta, que se encontra apaixonado por ela. Seria de esperar que Sumire também estivesse apaixonada por ele, mas não. Com 22 anos, Sumire apaixona-se pela primeira vez na vida por uma mulher casada, Miu.

À primeira vista, o enredo pode parecer banal. No entanto, garanto-vos que não o é. Murakami pegou no conceito de um triângulo amoroso e levou-o para um nível completamente superior, pois com uns toques surreais, transformou uma simples história aparentemente real numa história fascinante, que corta a respiração aos leitores pelas maravilhosas passagens que têm o privilégio de ler.

Digo isto, porque, de facto, o toque surreal de Murakami ajuda para se gostar do livro, mas é preciso uma escrita maravilhosa que faça justiça a um bom enredo. À semelhança do que constatei em A Sul da Fronteira, a Oeste do Sol, a escrita é muito fluida e rica, pois muitas passagens têm metáforas belíssimas e as frases soam simplemente melodiosas. Inúmeras páginas do meu livro têm os seus cantos dobrados por ter encontrado parágrafos profundos que me fizeram parar antes de continuar a ler.

O único ponto negativo que posso apontar é o facto de que, ao contrário do outro romance, a história não tem tanto o carácter oriental de que estava à espera, pois uma parte da acção passa-se na Grécia. Talvez por isso tenha sentido que estava um pouco abaixo do outro romance.

Fora isto, adorei o livro. A história é belíssima e cativante. O facto de ter um toque que passa as barreiras do mundo real foi algo único que me fez escapar deste mundo por instantes.


Classificação : 9/10

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Crime no Campo de Golfe, de Agatha Christie

Sinopse: Um urgente pedido de ajuda leva Poirot a França. Infelizmente, o detective não chega a tempo de salvar o seu cliente, cujo corpo é encontrado numa sepultura aberta num campo de golfe. Mas porque é que o morto enverga o sobretudo do filho? E a quem se destinava a apaixonada carta de amor descoberta no seu bolso? Antes que Poirot consiga responder a essas perguntas, o caso sofre uma reviravolta com a descoberta de uma segunda vítima.

A Minha opinião: Mais um ponto para a Duquesa da Morte. É impressionante como Agatha Christie continua sem desiludir. Apesar de começar a estabelecer alguns paralelismos entre os seus livros, reconhecendo algumas semelhanças entre os mesmos (algo da fórmula Christie?), o interesse manteve-se e a capacidade de me surpreender continua.

Como pontos fortes deste policial em específico, aponto o facto de, à semelhança de Crime no Expresso do Oriente, este também ter um crime antigo por detrás de todo o trama, crime esse fulcral para a resolução do mistério. Além disso, gostei do facto de haver outro detective envolvido no caso, um detective mais convencional que, claro está, não usa tão bem as celulazinhas cinzentas como Poirot. De resto, o habitual da autora: personagens singulares, uma capacidade de envolver o leitor no ambiente da história e de o manter preso à mesma de vido a umas reviravoltas inesperadas.

Na minha opinião, o livro só peca na escolha do narrador. Achei que a personagem estava ok. Nem gostei nem desgostei, mas depois da enfermeira que narrava o Crime na Mesopotâmia, este narrador soube-me a pouco, porque era um pouco normal demais. Ainda assim, fazia o nosso papel na história, de pessoa que pouco percebe ou não da resolução de um crime, e que se deixa levar facilmente pelas emoções.

Não gostei tanto como Crime no Expresso do Oriente ou O Assassinato de Roger Ackroyd, mas, na minha opinião, é um óptimo mistério na mesma e gostei bastante de o ler.

Classificação: 8/10 (Muito bom)

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Um deus passeando pela brisa da tarde, de Mário de Carvalho

Sinopse: Lusitânia, séc. III d.C. Neste romance, talvez o mais importante de Mário de Carvalho, tudo se passa numa cidade da Lusitânia, Tarcisis, no momento em que Império Romano começa a soçobrar, devastado por factores internos e externos, as invasões bárbaras e a cristianização. E é num ambiente de decadência que todo o romance se desenrola. Apanhado na vertigem dos acontecimentos e rodeado de sinais que escapam ao seu entendimento, Lúcio Valério, o magistrado supremo é espoliado e perde todo o seu poder. Mário de Carvalho avisa-nos, no começo do romance: "...Tarcisis nunca existiu...", no entanto, devemos estar atentos, sobretudo os detentores do poder, aos sinais dos tempos, para percebermos o que nos acontece.


A Minha opinião: Antes de mais, quero referir que este livro foi lido no âmbito do contrato de leitura da disciplina de português. Ainda que eu tenha tido a oportunidade de o escolher numa lista de 20 livros de autores portugueses, interiormente, a etiqueta de "obrigatório" ao princípio não me deixou desfrutar do livro como o teria feito se fosse uma leitura normal. Para minha surpresa, após o arranque inicial dos primeiros 3 capítulos, já o via como um livro que lia por prazer e não por obrigação.

A história desenrola-se em Tarcisis, um município situado na Lusitânia, na altura em que Marco Aurélio era imperador. No primeiro capítulo, o protagonista, Lúcio Valério encontra-se exilado na sua villa, fora de Tarcisis, após ter exercido o cargo de dúunviro (governador máximo) no município. De seguida Lúcio inicia a analepse, propondo-se a escrever sobre os acontecimentos que levaram ao seu exílio, aquando a sua governação, de modo a apaziguar o seu espírito.

Enquanto dúunviro, Lúcio vai deparar-se com três grandes problemas: o avanço dos mouros que poderão vir a atingir Tarcisis, a seita dos cristãos que ele tenta, de certa forma, proteger do ódio da população e todo o contexto político e o descontentamento social que, a certa altura, Lúcio vai deixar de conseguir controlar tal a forma como os outros dois problemas ocupam as suas mãos. Isto sem esquecer a terrível atracção que sente por Iúnia Cantaber, a cristã mais devota e fanática de Tarcisis.


Gostei bastante do livro. Apesar de não ser um livro viciante, de leitura rápida, prende o leitor e obriga-o a reflectir sobre aquilo que está a ler.
De facto, este livro não tem como propósito relatar acontecimentos verídicos, porém, por aquilo que acontece é inevitável não pensar que, em moldes ligeiramente distintos, dilemas e situações nas quais Lúcio se encontra poderiam não só ter ocorrido na sociedade romana como também numa actual. Isto porque as pessoas mudam o mundo, mas o mundo não muda as pessoas. Os problemas que Lúcio enfrenta não seriam iguais nos dias de hoje, mas a forma como ele actua sobre eles e como ele é visto pelo resto da população por causa dessas acções seriam, sem dúvida, parecidas.

Lúcio é um homem íntegro, fiel aos seus princípios e preocupado em fazer justiça. É um bom romano e acredita no sistema romano, ainda que não se identifique com alguns hábitos da sua cultura, entre os quais os divertimentos. Enquanto governante, claro está, estas características não serviam para ser considerado um bom líder, porque das duas, uma, ou ele fazia o que era justo, ou não agradava o seu povo. E o que acontece na maioria das sociedades se um líder não faz o que o povo quer? O que acontece se um grande governante, justo e com bons ideais, não faz o que o povo e o que os outros políticos querem? Simplesmente não sobrevive, e é afastado.

Não conhecia o autor, mas fiquei muito bem impressionada com este livro. A história é muitíssimo interessante e o enredo é sem dúvida cativante. Porém, aquilo que esconde por detrás é ainda mais rico, porque lida com mais do que a própria história. Não é uma simples historieta. É um livro que obriga o leitor a reconhecer que é curioso como duas sociedades tão distintas, separadas por tantos séculos, possam ter tanto em comum, simplesmente porque as atitudes das pessoas permanecem as mesmas.

Recomendo vivamente àqueles, que, como eu querem ser arrebatados por um excelente livro de um autor português.

Classificação: 8/10 - Muito Bom

sábado, 1 de janeiro de 2011

Balanço Literário de 2010

O ano de 2010 ficou abaixo das minhas expectativas em relação às leituras. O meu ritmo diminuiu consideravelmente assim como o tempo para vir escrever críticas. Ainda assim, não posso dizer que foi um mau ano, porque houve vários livros que simplesmente me maravilharam e consegui cumprir grande parte daquilo a que me propus há um ano atrás.

Os livros que mais gostei:

A Trança de Inês: O primeiro livro que li dum autor lusófono (sem ser JRS) que superou completamente as minhas expectativas. Adorei a expressão escrita de Rosa Lobato de Faria e a forma como abordou o romance de Pedro e Inês. Um livro pequeno, mas que agora que reparo, se encontra ainda muito vivo na minha memória. Um obrigada à minha antiga professora de português por me suscitar o interesse por autores portugueses contemporâneos.

Crónicas do Gelo e do Fogo: Li 4 livros este ano e adorei a série. As expectativas eram altas mas os livros não só as corresponderam, como também as superaram. Estou apaixonada pelas personagens e suspeito que, em 2011, estas ainda me vão surpreender mais.

El Tiempo entre Costuras: Um livro maravilhoso que tive a sorte de poder lê-lo na sua língua original e cuja história me encantou. Mais que aconselhado!

Romances históricos de Philippa Gregory: O que posso dizer? A forma como ela nos transporta para a corte dos Tudor é espectacular.

A Sul da Fronteira, a Oeste do Sol: Um livro fabuloso, que recomendo vivamente. Não percebo como só li um livro dele este ano :(

Em relação a números:

Livros lidos: 40

Por género:
Livros infanto-juvenis da colecção Estrela do Mar: 6
Romance:15
Romance histórico: 6
Policial: 3
Fantasia: 5
História/Filosofia: 3
Thriller:2

Por autores:
Autores conhecidos: 6
Autores que não conhecia: 24
Autor com mais livros lidos: Agatha Christie (3), George R. R. Martin (2)
Autores Portugueses: 3 (aspecto a melhorar em 2011)

Emprestados (biblioteca): 25
Emprestados (pessoas): 6
Comprados:9

Número de páginas lidas: 12171
Número médio de páginas por dia: 33

Para 2011, espero vir a ler livros dos autores com que me comprometi o ano passado (Anne Bishop, Charlotte Brontë, Juliet Marillier, mais Murakami...) e, se possível, continuar a descobrir autores e livros maravilhosos, como tenho vindo a fazer desde que me tornei visitante assídua dos blogs de leitura na barra lateral :)

Um excelente 2011 e boas leituras!!